TREDO DAS NOITES VAZIAS
E quando rompe a voz que a tarde inspira,
O Letes em vapor tudo enegrece
E inunda o prado, a Veiga, o monte. A lira
Debalde já modula um treno em prece.
E quedam-se esquecidos mil viventes,
E quantos mais se houver. Mirando a lua,
O vate pensativo e descontente,
Banhada tem no averno a vida sua.
Talvez o fumo etéreo tudo apague...
E seja a triste noite o meu futuro...
Talvez o amargo pranto se deságüe...
Pois vivo pensativo e descontente
No oráculo das sombras e, em vão modulo
A lira do viver em voz ardente...
E uso pra dizer neste estrambote
Que ao Letes fui beber minha aventura
Lutando pra esquecer a dor e a morte.