Década
‘Homem miserável que sou!...’
Apóstolo Paulo
Dunas encobertas, vales insensatos
rompantes de ódio dissimulados em calma
eis-me aqui metálico iridescente
para quem jamais percebeu os gestos de amor,
meu coração soberbo, minha natureza morta
restringem ao mínimo o que desejo ser
resto de dor
estrela decepada
fígados cérebros omoplatas esmiuçados,
corpos, nômades que procuram água
nos desertos isolados
solidão colossal inimaginada
coleção de dias atribulados
crime que minhas mãos cometem avidamente
sem volta
quem resgatará o espírito
miserável contrito
submetido
ao caos
da fúria?
Quando lançados
na condição perecível
mórbida
de nós mesmos, impensados seres
o que faremos
de nossas próprias dores
quando forem maiores
que nosso próprio existir?