Poema aos ratos

Raça essa infame

abjeta insosssa

perdulária ignóbil

que habita submundos negros

sempre em busca de lixo,

homo sapiens, essa raça

caminhante insone em trevas perdida

degustando as sobras do mundo

existência carcomida de vermes

criatura despida de luz

aonde irás?

Salvar-te-á a si mesma?

Encontrarás outros iguais a ti

para fazer das ruas

teu antro de putrefação?

Raça infame

multiplica ela sua cria

jogando nas sarjetas sua prole emaciada

bem à noite

todos os seres reunidos

como expectadores de si mesmo

num festim canibalesco

observam os verdadeiros habitantes

os ratos, ratos, límpidos e imaculados ratos

puros e sem pecado, ratos

sem a vergonha de serem chamados

por este nome vil e impronunciável:

homem.