vai poeta

Vai poeta

Vai morrer sozinho .

Com sua rima pequena.

Com seu verso impreciso.

Vai poeta.

Vai carpir a dor do mundo.

Nos ombros estreitos e humanos.

Com sua pena certeira.

Vai suportar o sofrimento inumano.

E dizer-nos que é poesia.

Vai poeta.

Abandona o fardão.

Rompe com a academia.

Vai rimar coração.

com não

E esse silêncio que não rima com nada

E dizer que tudo é poema

É meristema

É colostro

mas não é leite

É paradoxo

mas não é filosofia.

Vai poeta se pôr com o sol da tarde

Tangendo as rubras nuvens

Espalhadas no horizonte

Vai ser fugidio e pleno

Vai poeta

Partir sem ter hora para voltar

Vai fechar os olhos do ente querido

Que jaz morto e esparramado

no chão frio

Sob a cortina de lágrimas

Ainda assim a poesia saltará de seus

olhos

E farão outros olhos tomar

o bonde do tempo

Em direção ao túnel sem luz

Vai poeta

Acena pela última vez

Diz a última palavra

Que gravarei em seu túmulo.

O que? Não lhe escuto.

Poesia? Poema? Versos? Verões?

Não.

A última palavra,

será simplesmente:

Até logo...

E num sumir reticente

Deixando na boca

o gosto das palavras

de rimas incertas

E de

dores esquecidas.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/12/2008
Código do texto: T1314228
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