vai poeta
Vai poeta
Vai morrer sozinho .
Com sua rima pequena.
Com seu verso impreciso.
Vai poeta.
Vai carpir a dor do mundo.
Nos ombros estreitos e humanos.
Com sua pena certeira.
Vai suportar o sofrimento inumano.
E dizer-nos que é poesia.
Vai poeta.
Abandona o fardão.
Rompe com a academia.
Vai rimar coração.
com não
E esse silêncio que não rima com nada
E dizer que tudo é poema
É meristema
É colostro
mas não é leite
É paradoxo
mas não é filosofia.
Vai poeta se pôr com o sol da tarde
Tangendo as rubras nuvens
Espalhadas no horizonte
Vai ser fugidio e pleno
Vai poeta
Partir sem ter hora para voltar
Vai fechar os olhos do ente querido
Que jaz morto e esparramado
no chão frio
Sob a cortina de lágrimas
Ainda assim a poesia saltará de seus
olhos
E farão outros olhos tomar
o bonde do tempo
Em direção ao túnel sem luz
Vai poeta
Acena pela última vez
Diz a última palavra
Que gravarei em seu túmulo.
O que? Não lhe escuto.
Poesia? Poema? Versos? Verões?
Não.
A última palavra,
será simplesmente:
Até logo...
E num sumir reticente
Deixando na boca
o gosto das palavras
de rimas incertas
E de
dores esquecidas.