Abandono

Seu passo é indolência,

Marcado pela mesmice das folhas

Que perderam o viço e a vida.

Seu rumo é lugar nenhum,

Perdido entre petrechos mal dormidos,

Na casa grande outrora rica.

Macilento, mastiga a própria língua

(gesto herdado do pai),

No desdém da despensa em teias:

_ Ubro seco, sem quarqué valia!

Uma cantiga oca, repleta de inessência,

Carimba seus ouvidos carentes de interlocução,

Pendurados nas arestas do silêncio.

Sua vida sempre cheia de vírgulas

Embaraça-se nas reticências de agora;

Na agudez do ponto final que principia.

Procede, assim, sinuoso e só

Por entre guardados melancólicos,

Arremedando uma sinfonia em dó.

Enfim, arrefece-lhe a alma

E seu corpo convertido em cansaço da vida

Dobra-se sobre si, em concha,

E se espairece acima da nulidade

Em que o tempo se converteu.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 13/11/2008
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