Abandono
Seu passo é indolência,
Marcado pela mesmice das folhas
Que perderam o viço e a vida.
Seu rumo é lugar nenhum,
Perdido entre petrechos mal dormidos,
Na casa grande outrora rica.
Macilento, mastiga a própria língua
(gesto herdado do pai),
No desdém da despensa em teias:
_ Ubro seco, sem quarqué valia!
Uma cantiga oca, repleta de inessência,
Carimba seus ouvidos carentes de interlocução,
Pendurados nas arestas do silêncio.
Sua vida sempre cheia de vírgulas
Embaraça-se nas reticências de agora;
Na agudez do ponto final que principia.
Procede, assim, sinuoso e só
Por entre guardados melancólicos,
Arremedando uma sinfonia em dó.
Enfim, arrefece-lhe a alma
E seu corpo convertido em cansaço da vida
Dobra-se sobre si, em concha,
E se espairece acima da nulidade
Em que o tempo se converteu.