Constatações
Transformastes, durante algum tempo,
Meu sincero prazer
Em um amargo dever...
Queria que eu escrevesse para teus olhos,
Não para os meus...
Nem para os de mais ninguém.
Escondias meus textos,
E ias além...
Debochavas:
"Quanta tolice,
Quanto tempo perdestes...
Quantas folhas estragastes..."
O precioso fio de meus sonhos arrebentastes...
Como não vi?
Como deixei de notar?
Ah, não adianta...
Não há motivo,
Nem válido, nem vão...
Não há razoável explicação
Sobre porque
Decidistes meus sonhos rasgar.
Descartastes todos eles,
Como se fossem coisas sem valor...
Agora, vens a mim, implorando,
Pedindo por favor...
Só porque queres uma nova fiada para te encantar?
Eu te avisei,
Te pedi...
Meus sonhos estavam ali,
Espalhados a teus pés...
Mas, ao invés de suavemente caminhar,
Decidistes sapatear...
E ficastes com cara de tolo,
Quando salvei os últimos,
Com um forte puxão...
Me olhavas surpreso,
Caido no chão...
Não entendias o que me levou a te desafiar.
Recolhi os farrapos e me pus a andar...
Segui em frente,
Pois não havia jeito.
Me desolastes,
Cravastes um espinho no meu peito...
Simplesmente por orgulho,
Por querer te mostrar.
Com as vagas do tempo,
Toda dor há de passar...
Afinal, sou tal qual uma fênix:
Se reduzida as cinzas, renasço...
É só encontrar lugar para fazer meu ninho.
Mas essa certeza de recomeçar
Não me impede de pensar...
De olhar,
De verificar o tamanho do estrago.
O meu bem querer
Com um mal amar foi pago...
Por isso a tristeza,
Que gera esses amargos pergaminhos...
E enquanto faço minha pira,
Necessária para me incinerar
E poder renascer,
Uma certeza me angustia,
Sem que eu consiga deter...
Não tenho como esse pensamento evitar.
Gloriosa como fênix, voei por amar...
Mas como um frágil beija-flor,
Me perdi no caminho...
E, ao invés de beijar uma rosa,
Acabei me empalando em um espinho.