Distâncias
Onde estão os sonhos?
fumaça viraram
espectros empalideceram
café com leite e desespero
disfarço
a muralha que no seio se ergue
batalhas esquecidas
um livro na rua,
na novela o grito
no jornal a maciez dos homens
que são só mais homens de barro
como eu
como tantos,
um dia
misantropia
olhar os rostos na calçada e sorrir
não quero
não quero comprar
não quero vender
não quero sexo, distorção ou irrealidade
não quero doce canção noturna
não quero comida
não quero confrontar
a realidade burra de hoje
a utopia absurda de agora
quero o sonho
e o sono
que só meus olhos podem ver
páginas em branco
a vida morreu muitas vezes
na complacência muda do fracasso,
filhos que nascem
para onde
para quê?
Muralhas que se erguem
redundantes desinformadas
entre nós e nossos delírios de grandeza
viver para um dia
parentes, respostas, doenças, sentimentos, abandonos
todos eles passam,
fica o sonho
bruma multicor, astuta névoa
que um dia trouxe o ar das esperanças
que de tanto bater em duras pedras
são agora desesperanças
crianças nascem, correm valentes e despreocupadas
sem medo de viver
elas são
o sonho.