No Tabuleiro da Gazela

A pequenina fêmea se desloca de um lugar para outro

Rápida, flexível segue em ziguezague ante os predadores

Vira por ali, encosta aqui, passa um obstáculo por lá...

A gazela se movimenta entre os peões

São muitos e acompanhados por bispos e cavalos

Como uma torre ela se locomove em linha reta

Sabe dos perigos e continua à frente com força e liderança

Avante está em perigo

Cavalos adversários a cercam e armam perigosas armadilhas

A gazela se cala

Pede socorro, velocidade...

Geme e cai.

Apavorada, a solidão da vida lhe invade

Predadores e algozes chegam rápido

Mordem o seu corpo, passam por cima, remexem sua vida

Ela grita. É balançada, maltratada, arremessada e mordida

Sacudida vai se ferindo a cada ataque

Ao longe vê o bando se distanciando. Ela está só...

Rápidas imagens e lágrimas passam pelo coração cansado

Por onde andei, errei, joguei, relacionei...

Sente facas apontadas e entrando pelo corpo

Abatida, inicia sua negra desistência

As outras peças lhe esqueceram,

Não há movimento.

Por um instante, talvez, um vazio se fez

Em um solavanco é acordada do terror

Rapidamente levanta e corre

Arrependidos bispos e feras observam sua corrida

Ela foge novamente em ziguezague

Movimenta lentamente, mas com acuidade e perseverança em meio aos predadores

Ao longe observa o bando e segue por outro sentido

Entorta o corpo, sangra, corre, corre e corre

No tabuleiro a torre retorna ao local de origem.

Antes abafada pela rainha e o rei, sentiu na pele a traição das peças

A Rainha queria sangue, o Rei desejava prazer

Ela retoma o seu lugar. Cansada evita o xeque-mate

A torre e a gazela, por ora, estão salvas

Não vigiaram a liberdade, outrora, conquistada

Pequenina e veloz, a gazela e a torre retomam a potência ainda em construção.

No tabuleiro do xadrez não mais confia em bispos, peões, cavalos, reis e rainhas

O novo ziguezague é bom, seguro e com poucos segue altiva, feroz e viva.

Um novo mundo lhe espera: novas estratégias, companhias, "amizades", predadores e algozes.

Lúcio Alves de Barros

(28 a 31 de outubro)