TRANSFORMAÇÃO
Você transformou a minha vida num circo...
Um circo decadente,
sem malabarista, nem mágico,
sem trapezista, sem domador,
nem equilibrista, nada,
nenhum artista, além de um palhaço,
sem graça, que sorria apenas
do seu próprio fracasso,
que saracoteava, desengonçadamente,
que sorria por fora
e chorava por dentro
e não se envergonhava
de sua arte, sem arte,
porque, no picadeiro do circo e da vida
o show não pode parar.
O palhaço precisa fingir, precisa brincar,
precisa sorrir, precisa chorar...
No circo imaginário, decadente,
em que você transformou a minha vida,
o trapézio era apenas o “balanço”
da corda-bamba em que eu vivia...
Malabarismo,
era a mágica que eu tinha que fazer
para mostrar a minha arte sem arte
e equilibrismo era tudo o que eu praticava
para segurar as lágrimas represadas ,
para conter o meu sentimento de revolta !
E, domadora, era a palhaça travestida
que habitava em mim,
enquanto brincava sofrendo
e sofria brincando
para, embora fracassada,
não deixar arriar a lona
do circo em que você, maldosamente,
transformou a minha vida.
Maria Nascimento Santos Carvalho