MEDO

Porque foste o mundo

A vida em um segundo

O tudo, o repente, o nada

O sussurrar de madrugada

A voz rouca, forte, arfada

E agora? Nem tua compaixão

mereço? Nem dessa solidão me

esqueço? Nem me tornando um vulcão

me aqueço. Explodo. Sintetizo mas não assinto.

Farsa. Castelo de areia. Escultura de gelo.

Não! Não concebo o erro antes do ato.

Troco sim o real pelo abstrato!

Porquanto o real é o que tornamos à marra

À gula, à gana, à guisa do agarrar pelas unhas

Se julgas o meu jeito bilioso

Pra explicar o enfado tão precoce

Me acomete do julgamento

Antes que de réu eu mesmo me emposse

Se precipito o erro no medo - já errei

Não sou digno de errar se não tentei