Golpe do baú
Abri a porta e desci as escadas.
Velas, castiçais, iluminavam o corredor
espelhos refletiam minha alma de dor
urubus e rosas ao redor de seu corpo.
As espadas nas paredes perfuraram meus olhos
cego, eu não conseguia te ver ali
o cheiro de sangue, seu corpo rasgado
tiraram-te o coração, a alma e o sorriso.
Tirei minhas luvas e pus a te tocar
mas como ainda estava quente!
tão quente...viva...
feita de cristal, você quis voar
caiu no chão e se despedaçou.
Os gatos, sábios, guardavam a entrada
de seu novo quarto, sua cama limitada
bonita como os quadros, macia, aconchegante
queria um dia deitar ali, contigo.
Morcegos e almas tomavam seu sangue
a música ali, um piano bem triste
o violino choroso, o barulho do nada
os anéis luxuosos que eu pus em seus dedos.
Encapado estou eu para fugir da chuva
entrando em sua casa, roubei as chaves
deitei ao seu lado e fechei a porta
mas como ainda estava quente!
tão quente...macia...sedutora
tão suave...atrativa...tão oferecida
tocável e adormecida.
Os olhos de gelo sussurravam para mim:
"venha, meu bem, fique comigo
pois só aqui te darei abrigo
entre no chão se for meu amigo
não fuja da morte, não há perigo"
Mas que insanidade a minha de querer te encontrar
as penas negras de suas asas me guiaram no caminho
Que morte? Que vida?
seu sangue então secou
me enganou e entediada da visita
abriu o caixão, saiu e lá me deixou
Sozinho pra sempre fechado no corredor
os espelho à minha frente refletindo a dor
uma eternidade de vazios, vida sem cor
e agora eu quem tinha os corvos ao redor.