Golpe do baú

Abri a porta e desci as escadas.

Velas, castiçais, iluminavam o corredor

espelhos refletiam minha alma de dor

urubus e rosas ao redor de seu corpo.

As espadas nas paredes perfuraram meus olhos

cego, eu não conseguia te ver ali

o cheiro de sangue, seu corpo rasgado

tiraram-te o coração, a alma e o sorriso.

Tirei minhas luvas e pus a te tocar

mas como ainda estava quente!

tão quente...viva...

feita de cristal, você quis voar

caiu no chão e se despedaçou.

Os gatos, sábios, guardavam a entrada

de seu novo quarto, sua cama limitada

bonita como os quadros, macia, aconchegante

queria um dia deitar ali, contigo.

Morcegos e almas tomavam seu sangue

a música ali, um piano bem triste

o violino choroso, o barulho do nada

os anéis luxuosos que eu pus em seus dedos.

Encapado estou eu para fugir da chuva

entrando em sua casa, roubei as chaves

deitei ao seu lado e fechei a porta

mas como ainda estava quente!

tão quente...macia...sedutora

tão suave...atrativa...tão oferecida

tocável e adormecida.

Os olhos de gelo sussurravam para mim:

"venha, meu bem, fique comigo

pois só aqui te darei abrigo

entre no chão se for meu amigo

não fuja da morte, não há perigo"

Mas que insanidade a minha de querer te encontrar

as penas negras de suas asas me guiaram no caminho

Que morte? Que vida?

seu sangue então secou

me enganou e entediada da visita

abriu o caixão, saiu e lá me deixou

Sozinho pra sempre fechado no corredor

os espelho à minha frente refletindo a dor

uma eternidade de vazios, vida sem cor

e agora eu quem tinha os corvos ao redor.

JHM
Enviado por JHM em 08/10/2008
Código do texto: T1218453