UM CACHORRO SEM DONO
Lá vai aquele homem...
Pensativo de dar dó...
Lembrando as muitas coisas vividas;
Lembrando as muitas coisas amadas...
Sabia que nada tinha construído...
Porque um dia tudo ruiu;
Era um castelo de ilusão!
A morte estava prestes.
Era anunciada pelo cenário:
As folhas estavam murchas.
Os pássaros sumiram.
As frutas não vingavam.
As árvores secavam.
Os amores morreram.
Veio uma tormenta.
Levou tudo à sua volta.
Ficou à deriva.
Nunca mais conseguiu pegar no leme.
Nem mesmo aprendeu nadar.
Seu rumo era a solidão.
Via as nuvens escuras.
Tinha a sensação de desprezo.
Não conseguia ver a luz.
Estava cego!
Mas conseguia ver:
Via a amargura.
Via o silêncio.
Via o desespero.
Via a solidão.
Era um cachorro sem dono!
Era uma alma errante.
Era um ser sem nexo.
Era uma vida sem razão.
Era um pobre ser só.
Não havia hoje,
Não havia amanhã.
Não havia nem choro.
Porque não tinha gente!
Era tudo opaco
Sem sensação,
Sem emoção,
Sem jornada!
Oh! Homem esquecido!
Não vemos mais seu gemido.
Será que voou com os anjos?
Será que partiu mais cedo?
Sem resgatar suas origens;
Sem reencontrar seus filhos;
Sem rever seus netos;
Sem um abraço forte.
Sem um ombro amigo...
Isso não se faz...
Alguém versará seu drama.
Alguém será responsabilizado.
Um ser não pode ser só.
Tem de ter alguém.
Tem de ter seu ninho.
Tem de ter seu carinho.
Tem de ter seu abrigo.
Não pode partir assim...
Sem encontrar seu rumo.
Sem ver o seu norte.
Tem de contar com a sorte.
E achou seu dono...
Era alguém silencioso.
Que latia muito no ouvido.
Que balançava o rabinho.
Que dormia no seu ninho.
Que lhe seguia os passos.
Que comia do seu prato.
Que sorvia seu regato.
Que animava seus dias.
Que lhe fez ver a vida.
Que lhe fez acreditar.
Voltando para a vida.
Era também...
Um cachorro sem dono!