Produto Humano

São cinco objetos,

Cinco marcas diferentes,

Sou um dos objetos, triste por assim ser,

Mas, mesmo assim,

Algo nisso me agrada;

Dentre os cinco objetos,

Sou o único que seria escolhido

Para uso vitalício.

Como uma mercadoria em uma prateleira,

Assim eu me encontro,

Parado, imóvel;

Assim sou visto,

Produto imperecível,

Produto enjoativo,

Mas, mesmo assim,

Preservo meus sentimentos.

Objetos.

Produtos sem grande procura,

Produtos com grande valor,

Produtos que não são produtos.

Entre os cinco objetos,

Diferentes qualidades,

Ressalvando-me, sou o vitalício,

Existe também o objeto que engana,

Que dura apenas duas semanas.

Um dos objetos eu não conheço,

Outro possui grandes qualidades,

Porém estas qualidades são voltadas a um mundo diferente.

Um dos objetos já foi fruto de utilização,

Foram três dias de imaginação.

Então a surpresa,

Os que eram cinco passam a ser seis,

Uma marca se repetia com um objeto diferente,

Surge então o objeto de uso impróprio,

Ou melhor, a vontade de trocar de objeto, de produto,

Grande era o problema que encontrava-se a frente,

O objeto queria destinar-se a outros fins,

Outro usuário.

Descobri que no tempo onde eu era o objeto

Existia a ambição de se ter outro objeto em mãos,

Sempre existiu a vontade de tê-lo.

Sou um objeto,

Fico triste por isso,

E mais triste fico por saber que nunca fui absoluto,

Que sempre existiu um outro objeto,

Estava na prateleira ao meu lado o tempo todo.

O objeto que sou ainda tem fins utilitários,

É um bom objeto,

Fruto de provocações, desejos,

Porém, ainda é objeto impróprio ao que se destinava ser,

O objeto de ambição ainda se sobressai,

Agora está com maior poder de persuasão,

Mesmo trazendo incertezas quanto aos fins desejados,

Mesmo sendo frágil a correlação existente entre consumidor e produto.

Ser objeto é ser inexistente.

Então, não, nunca,

Nunca acredite em promessas de consumidores,

Seja apenas objeto,

Sem opinião,

Sem vontades,

Sem sentimentos.

Esteja sempre inerte,

Ou pior, torne-se consumidor.

14/10/2002 – 14/11/2002

Esta poesia foi escrita após a leitura de anotações diárias, na data acima anotada. Não é um exemplo de rima, mas não deixa de ser uma crítica à forma com que as pessoas são tratadas, seja por quem for. Pode ser adaptada a muitas situações, é fácil. Abraços aos leitores.