No fundo do poço

Cá estou, no fundo do poço

Minha vida desabou, profundo desgosto

As circunstâncias me trouxeram pra cá

Entreguei-me, cansei da vida, deixei de lutar

De tanto ver triunfar as nulidades

De tanto presenciar as falsidades

De tanto ver o choro incontido

Desisti, ontem vencedor, hoje vencido

Isolei-me do mundo, minha luta perdi

Fechei-me nas trevas, deixei de sorrir

Cobri-me de indiferença, tapei os ouvidos

Os anos passados, todos perdidos

Não choro, os sentimentos são ausentes

Nada me abala, só o peito ressente

Do tempo que outrora perdi

Quando no meio dos homens vivi

Aqui rastejo, vou deixando rastro asqueroso

Na parede escura, na cavidade do poço

Uma única fresta de luz tênue irradia

Minha vida tristonha, prolonga meus dias

Aqui sou um

Lá em cima, apenas mais um

Verme asqueroso, nojento, um réu

Desgraçado, blasfemando de Deus

A raça humana é podre, miserável

Sedenta de sangue, instinto insaciável

Mata, rouba, estupra os seus iguais

Moro no poço, não saio jamais