Hoje arranquei um tumor
Arranquei um tumor
Hoje eu arranquei um tumor do lado esquerdo do meu peito.
É o lado do coração, da paixão, da sensação e da emoção,
Mas também é o lado da escravidão, da prisão, da servidão.
Hoje eu arranquei um tumor do lado esquerdo do meu peito.
Cirurgicamente extirpado, cortado e em formol, envasado,
Para no laboratório ser dilacerado, analisado e verificado.
Hoje eu arranquei um tumor do lado esquerdo do meu peito.
Sua malignidade eu saberei, mas no fundo eu quero crer,
Que para o bem lá ele esteve, levando-me a pensar e a ver,
(...)
Que hoje eu não só arranquei um tumor,
Mas, sim, arranquei a mancha, a dor,
Que marcava meu corpo em todo perfeito,
Com uma marca preta, feia, “sem cor”.
Mancha preta, fosca, que não é a cor da Santíssima,
Que me cobrindo com seu manto branco lá estava,
A me olhar e ajudar a arrancar a marca negra,
Que longe de mim, sempre deveria, porém só agora estava,
Pois meu eu é branco, é azul, da cor do céu e do mar,
Da estrela que me guia, me dá luz, calor e me conduz,
De encontro a um Deus, a um Orixá, a um Budha, a um Jesus.
Hoje eu arranquei um tumor do lado esquerdo do meu peito.
Este aí nunca mais em mim voltará; em mim não mais nascerá,
Pois hoje sei que o arrancar e sua dor se fazem necessário,
Para crescer e cada vez mais viver, sentir, ler e ser,
O André que sempre existiu, mas que no preto, se dilui,
Ofuscando meu coração, minha paz, minha vida e meu amor,
Amor Pela vida, pelos animais, pelas crianças...
enfim, por mim.
Duque de Caxias, 23 de maio de 2006, 05:02hs.