UM POETA QUE NÃO SONHA

Um poeta

Que sonha

Não sou desse...

Comigo é mais

Embaixo...

Sou solitário

E fatos

É o que interessa

Por que pressa

Se tudo acaba?

Pra se concluir

Tem que partir

Do nada,

Eu poeta

Sou você

Pedra no caminho

Flor do espinho

Mas sonhar

Jamais...

Trabalhar

Em prol

Na direção

Do sol

Aí tudo bem

Afinal

Não estou dizendo

Que sou ninguém,

Somente

Não estou querendo

Sonhar...

Idealizar...

Realista

No ponto de vista

Pois se estivesse

sonhando

meu coração

sofredor seria

e é... culpa minha?

Não! De uma mulher.

Que ao passar

Na minha vida

Sem direção

Levou-me junto

Para poesia

Fez-me poeta

De alegria

E quando se foi

Para minha agonia

Cobrou seus sonhos

Que me havia emprestado

E agora eu? Calado,

Curvado me ponho

Na busca, tristonho

Reunindo, sombras

Que se esgueiram

A tua procura

Em que beco está?

A que abismo desceu?

Com certeza não foi o meu

Por que me tombas?

Já me bastam que ergueram

Sobre mim e ti

Um muro de betão,

Pinche, pincel, tijolo

Como um louco

Com caneta

E carinho

Tento transpô-lo,

Mas sozinho

Te componho

Não sonhar

Te esquecer

Superar...

Já que deixaste

Teu suor por trás

Do meu trabalho

Teu ósculo ébrio

No meu vocábulo

Teu doce abraço

Nos poucos traços

Que pude transcrever

Perdi rima,

Perdi o nexo

Agora é só verso

Sem sonho...