Como eu sou?
O mundo é tão grande...
O Brasil é tão grande...
Minha cidade é tão grande...
Meu bairro é tão grande...
Minha família é tão difícil...
Quem sou eu...
Não vou fazer grande diferença!
Estou preso nas minhas palavras e na minha retórica
Sou um rato de laboratório, sou pior que os vermes na minha derrota histórica
Minha mente está cheia de maus pensamentos, meu nariz é grande e cheio de impurezas
E cresce a cada palavra escrita, porque finjo. Meus pulmões entupidos são estúpidos
E meu coração com veias fétidas exala sangue ralo, fraco... e tristezas
Meus braços longos deformados, cabeludos com chagas não param de rastejar
Estão comidos pelos ratos... Minhas pernas estão inchadas e roxas, flácidas
Com estrias, tortas... não sabem andar. Meus pés têm unhas crescidas pelo tempo,
Sujas do andar, desgastadas do arrastar, verdes pelos fungos azedos.
Em meu tronco, as costelas saltam e a deformação é clara, a magreza é larga
A cicatriz das últimas facadas...
Facadas das minhas próprias palavras
Ou de outro poeta moralista
De discurso forte e seguro
Seguro de seus ideais
Mas coberto de incertezas
Que não assumirá às claras.