AMOR DE SÁBADO


Por inúmeras vezes vi o caminho verde da troca de estações.
No sábado frio e sem vozes,
apenas os pesadelos ecoam para que não volte a dormir.
Passa do meio-dia.
Sei das coisas por fazer, mas pareço amarrada ao berço da manhã sem sol.
Sinto falta de gestos e de gentes do passado.
Vivo o presente em toque de espera.
Cartas são enviadas para lugar algum
E respostas são ilusões envelopadas por mim mesma.
Seca e abstraída, ouço músicas antigas
em busca de alimento para a alma secular.
Calculei mal a solidão.
Pensei em fardo mais leve e trago nas costas dias de chumbo.
Jamais imaginei que a dor do vazio pudesse arrancar gritos tão assustadores.
Meus gatos me seguem e me estranham.
Muitas vezes se escondem de mim.
Os amores se foram.
Amar é como vender frutas podres numa quitanda...
Resta o mau cheiro e reclamações.
Encosto a face pálida no travesseiro
E, habituada ao silêncio bruto e aos barulhos que vêm da rua.
fico pensando no quanto a perda me foi erva daninha sem solução.
Não fizemos o nosso canteiro
E o telhado que chegamos a fazer se foi inteiro na primeira chuva forte.
Descumprimos todas as propostas
E deixamos de dar as mãos bem antes do que havíamos pensado.
Na manhã de sábado, até os pássaros são poucos.
E a tarde, meio ladra, começa a se instalar para depois fugir da noite.
Na noite sacra deste dia, padeço de orações para manter os olhos abertos.
Dormindo te vejo. Acordada te mato.
Que seja assim.
Porque o sonho de véspera tem estranheza e desencanto
E o dia amanhecido não vale o café feito na hora.
 
Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 26/07/2008
Reeditado em 26/07/2008
Código do texto: T1098625
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