AMOR E DOR...
Vi tua face em vã tentativa,
negar ao ósculo solar
o contato com a epiderme,
em ação de resguardo.
No semblante exposto,
os sinais de pesar
que te afligem a alma.
Outro calor te consome
a te queimar as idéias.
E deste também foges,
vigoroso nas entranhas do ser,
reflexo de minhas palavras
que ecoam em tua mente.
Teu coração galopante,
aventureiro de impulsos febris,
ritmado a rosas e espinhos.
Em batimentos, se perde em insônias,
e da culpa és prisioneiro,
e o tempo não podes mudar.
Invejo a estrela reluzente
a banhar teu ser em luz,
inocente quanto às tuas máculas.
De longe observo teu corpo soturno,
e lastimo a sorte de nosso amor...
Não queiras julgar a minha dor,
pior que a tua se processa.
Asas retiradas a preço de fúria,
coração acometido a crueldade de harpia,
devorado lentamente a cada nascer do sol.
A sombra de tentativas malogradas,
presente na memória...
Nossos dias de felicidade lúdica,
onde eu mantive, castos
sentimentos que tu invalidaste,
por tua conduta negligente.
E agora me despeço muda,
meus gritos soaram no silêncio,
na recusa de teus carinhos
que te prostaram em lágrimas,
cuja razão se perdeu.
Na realidade cortante de nossa relação,
sustentada unilateralmente por mim.
Sim, te desejo toda a sorte,
habita em meu peito o amor.
Sentimento que vem do avesso,
que se expande, e se extenua,
e se alegra quando encontra,
porto seguro e asas douradas.
O que penso de ti?
Vejo-te como um caminho torto,
contrário aos meus anseios.
Falta em teu ser equilíbrio,
serenidade e companheirismo.
Espero que entendas,
decidir o caminho é difícil,
a realidade nos nega piedade.
Mas é preciso escolher,
amor ou dor no caminho,
e viver a liberdade de sermos,
senhores de nossa vontade .
E assim será...
Londres, 1997