AMANHECER DESILUDIDO
Uma garrafa de vinho no desjejum,
insone sigo com cambaleantes pensamentos.
Cinzeiro cheio, cigarro entre os dedos,
descrente de tudo, aberto em segredos,
perfil detalhado de um pobre louco solitário.
Então, foi isso... eu fui apenas mais um,
descartado na colheita das melhores sementes.
O joio abandonado nas águas transparentes,
levado para longe, onde nenhum jardim o abriga.
Perdido na solidão que apenas aos olhos irriga.
Tolo esse ser que em mim se manifesta,
quando sei que de nada adiantam lamentos e reclamações.
Amarguras que rasgam a alma, cegam quaisquer definições,
desamparando a caminhada, num sentido que nunca resta.
Mas, afinal, sou eu quem não presta.
Lanço novamente o meu olhar no vazio,
tomo mais um gole demorado para ver se inebrio
o torpor de uma alma que sangra desesperada,
por saber que de tanto amor, o que sobrou foi esse nada...