VIDA DUPLA

Eu sou eu ou sou a "outra"?
Já nem sei mais responder,
pois foram tantas, as "outras",
mudastes tanto de "roupas",
que algo em mim se perdeu...

Ao invés de tuas amantes,
te esperarem a noite inteira
quem te espera sou só eu,
em meio a noite, no breu,
ou sentada na soleira...

Tantas lágrimas perdidas,
enquanto que em outros braços,
tu esqueces quem eu sou,
que comigo se casou
e outros corpos abraças...

Não te importa saber
da dor do meu coração,
de tantos punhais cravados
por teus atos desvairados
que me rasgam a alma em vão...

És turista em nosso lar,
pouco te importa o que sinto,
me tratas qual fosse um móvel
se me quedo quieta e imóvel
perdida em meus labirintos...

E te aproveitas de tudo,
até que não estou bem,
para saíres em busca
das ilusões que te ofuscam,
mas me destroem, também...

Quantas vezes te flagrei
a dançar com outras mulheres...
apertadinhos, em beijos
sem pudor, com seus desejos
transpirando em suas peles...

Como quisera gritar...
grande escândalo fazer!
Porém faltou - me a coragem...
E lá fora, na aragem
da madrugada, chorei...

Oh, Deus, por quê permitiste
que eu amasse tanto a alguém
que apenas me fez sofrer?
Vejo o dia amanhecer,
olho ao meu lado... ninguém...

Boca carente de beijos
que sonhei seriam meus...
Sentindo o corpo tão frio,
o nosso leito vazio
maldigo o desejo meu...

Mesmo sendo eu a "matriz",
sei que sou a "filial"...
O melhor dos teus carinhos
deixas em outros caminhos
trazendo o "resto", afinal...

Tinhas uma vida dupla...
Queria, mas não te deixava,
porque sem ti, imaginava,
que aos poucos morreria,
pobre de mim, me enganava,
pois depressa, já morria...

Passou o tempo, acordei,
meu orgulho recolhi,
pobre farrapo no chão,
igual ao meu coração
que um dia te ofereci...

O direito não te dou
de em minha vida mandar,
pois perdeste meu respeito
quando me feriste o peito
indo em outras camas, deitar...

Hoje, de ti tenho pena...
És presa do teu passado.
Com força, sobrevivi,
vives ainda ao meu lado,
mas o amor, em nossas vidas,
foi algo apenas sonhado...