QUE REI SOU EU?

Vivo triste neste mundo,

Sinto a vida tão vazia,

Não tenho mais alegria,

Meu sofrimento é profundo,

Sou como um cheque sem fundo,

Me chamam de Majestade

Porque, na realidade,

Sou o REI DOS VAGABUNDOS.

Bebendo de bar em bar,

Cabarés e botequins,

Durmo em bancos de jardins

Ou em portas de garagem,

Exposto à chuva e à friagem,

Me chamam de Majestade

Porque, na realidade,

Sou o REI DA MALANDRAGEM.

A vida que eu já vivi

Hoje só resta lembrança,

Não tenho mais esperança

De abraçar meus companheiros,

Vivo liso, sem dinheiro,

Me chamam de Majestade

Porque, na realidade,

Sou o REI DOS CACHACEIROS.

Quando nasce um novo dia

Já me encontro nas calçadas

Com minha voz embargada

Cantando velhas canções

Ou poesias de Camões,

Me chamam de Majestade

Porque, na realidade

Eu sou o REI DOS LADRÕES.

Quando estou embriagado

Sozinho fico sonhando

E assim vou recordando

Minhas noites de seresta,

Hoje, só saudade resta,

Me chamam de Majestade

Pois sou, na realidade,

REI DE TUDO QUE NÃO PRESTA.

Já fui o REI DO ASFALTO,

Rei do Morro, Rei em Tudo,

O maioral no estudo,

Rei da Harpa, Rei da Lira,

Hoje que a sorte me tira

Minha razão de viver,

Quando muito eu posso ser

O grande REI DA MENTIRA.

Nos tempos de boa ventura

Todo mundo me estimava,

Namoradas não faltava,

Tinha mais de mil amores,

Não vivia nestas dores,

Meu nome era Majestade

Pois era, na realidade,

O REI DOS CONQUISTADORES.

Por isso que vos pergunto,

Meu bom Deus, que rei sou eu?

Sou alguém que já morreu,

Porém já fui triunfante.

Hoje, peregrino errante,

Folhas que o vento levou,

Agora, nada mais sou

Que um cadáver ambulante!

Brasília, 18.04.74

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 29/06/2008
Código do texto: T1056273
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.