Desintegração
Desintegração
Quero abraçar-me no escuro d’um abraço solitário
E isolar-me por completo de tudo o que me envolta
Quero entregar-me inteiramente a fungos, bactérias
E ter ao menos o direito de ser matéria morta
Desintegrar minhas moléculas, espalhá-las pela terra
Ser perdido e encontrado em toda, toda criatura
E serei água, oxigênio, carbono ou nitrogênio
(Se não me importa mais nada, que me interessa a estrutura?)
Ó dúvida incansável, maldita inutilidade incômoda!
Provocais um desejo mórbido das mais profundas recônditas
E com minh’alma ancorada e em tal depressão imersa
Devo agora empenhar-me em autofágica tarefa:
À desintegração total irei
Pudera eu ser constante como um plano
Imutável como um número
Definitivo como um ponto.