Desintegração

Desintegração

Quero abraçar-me no escuro d’um abraço solitário

E isolar-me por completo de tudo o que me envolta

Quero entregar-me inteiramente a fungos, bactérias

E ter ao menos o direito de ser matéria morta

Desintegrar minhas moléculas, espalhá-las pela terra

Ser perdido e encontrado em toda, toda criatura

E serei água, oxigênio, carbono ou nitrogênio

(Se não me importa mais nada, que me interessa a estrutura?)

Ó dúvida incansável, maldita inutilidade incômoda!

Provocais um desejo mórbido das mais profundas recônditas

E com minh’alma ancorada e em tal depressão imersa

Devo agora empenhar-me em autofágica tarefa:

À desintegração total irei

Pudera eu ser constante como um plano

Imutável como um número

Definitivo como um ponto.

Isaac Porto
Enviado por Isaac Porto em 21/06/2008
Reeditado em 29/06/2009
Código do texto: T1045110
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