"Dona Maria Vitória. Uma Derrotada" =Poema/ Crônica do Cotidiano=
Minha querida senhora Maria Vitória
De cabelos branquinhos como a neve
Eu quero contar aqui a sua história
Mas eu quero contá-la como se deve
Quando ainda jovem era tão linda
Risonha, alegre, u’a mocinha faceira
Tão bonita eu juro que não vi ainda
Nessa minha vida andarilha inteira
Casou-se com um homem bondoso
E dizia a toda a família, alegremente
“Esse é o meu querido esposo...”
Sorrindo sempre. Sempre contente
Do casal o primogênito logo nasceu
A ele outros quatros se sucederam
Ao vir a luz o quinto, o marido faleceu
E outras tragédias lhe aconteceram
Sozinha, com cinco filhos, muito lutou
Enfrentou as adversidades com valentia
Bons princípios a todos eles ensinou
Manteve unida a família. Com galhardia
Dia e noite batalhou constantemente
Nada deixou faltar em seu lar
Fez de cada filho um ser consciente
De que o importante na vida é estudar
Estudar. Ter um diploma. Uma carreira
Solidez no futuro e definido objetivo
Que a vida é luta. Não é brincadeira
Só vive bem que passa por seu crivo
A luta constante sua pele enrugou
Raleou seus cabelos. Amoleceu a face
Deu-lhe a expressão cansada. Murchou
Como peça velha que se desgastasse
Todos seus filhos progrediram na vida
Casaram-se quando deviam e procriaram
E à senhora, que devia ser bem querida
Com o passar do tempo olvidaram
Em sua cadeira de rodas, sofrendo
Os males todos da velhice maltratada
Passa os dias ora rezando, ora gemendo
E por nenhum deles é sequer suportada
Aos netos tornou-se um empecilho
Obrigados a amá-la por ser a avozinha
Só quando na presença de um filho
“A velha chata..”, Quando está sozinha
Hoje a colocaram em um carro gentilmente
E a conduzirão a um asilo de idosos
“Lá a senhora ficará bem. Muito contente
Os médicos e enfermeiros são bondosos...”
Antes mesmo de morrer a enterrarão
Em um depósito de velhos esquecidos
Mostrando sobejamente a ingratidão
De seus cinco filhos tão queridos...