A noite de todos os dias comuns (Verdades sobre um mundo cego)
A noite cai solitária
Como uma senhora a caminhar cambaleante sobre as pedras
Vestida de um luto singelo e sombrio
A noite nos diz o que o dia realmente é
E nos envolve em seu manto de luxúria triste
Ela vem entorpecida em brisas e beijos gélidos
Assim como a vida nos dá a dor
A noite nos presenteia com as verdades
Desejos que rebatem nos muros altos
E caem mortos no barro
Ou voam até os céus através da massa escura das usinas
A noite desaba lamentando
Os ventos frios que a cortam em pedaços
As noites em que a própria vida passou sem viver
E os caminhos errados que tomamos ao longo dos dias
Ela vem nos mostrar de braços abertos
A verdade desmascarada da vida
O significado nulo das lutas
A ilusão perfeita da luz
E o arco-íris de cores falsas
Imersas no sangue derramado das nossas guerras pessoais
Nós vemos uma imagem do mundo, escrita por outros.
Basta só ler a mentira
E aceitá-la como sempre fazemos
A maldita ilusão do mundo perfeito
Que cultivamos como uma dádiva eterna
O lado cruel do mundo está incluso
Na noite de cada um de nós
Onde descansamos calmos
E deixamos o mundo de lado
Esquecemos nosso destino obsoleto
E tudo o que causamos de mal
Na noite fria que cai
A senhora de luto desfalece, desaba morta num grito sem sentido.
No frio que nós próprios cultivamos
No vácuo de amor que geramos entre nós
A noite já não pode mais nos mostrar a realidade
Pois ela própria foi vítima da ilusão
Aos poucos o sol dos falsos desponta em uma ilusão de beleza
E vem nos dizer palavras mansas de conveniência forçada
A verdade está implícita em mil estrelas que choram
Desmascarada nas faces cruas da noite
Nas lutas perdidas, nas cores apagadas, se esconde um devaneio.
Uma nova ilusão de verdades e sonhos que nunca se tornarão reais
Uma nova máscara dos dias que a noite desmascarou em vão.