Brinde do Esquecimento
Um Letes denso e fundo como minha mágoa
Regando os vales do alegre esquecimento.
Nenhuma recordação! Das dores a macabra adaga
Quis matar do momento o amplo contentamento.
Do passado infernal na breve jornada isento
Cante, viaje e encante a alegria venturosa
Primavera ampla de amor donde pende a rosa
Como um pleno tesouro sem laivos e tormento.
O pranto sufoca a luz dentro do peito
Bruma sulfúrea, o azul do coração roe lento
Existe entanto um céu de envolvido alento
Na alma que chove o passado estreito.
Glauca afeição que nódoa desconhece
Onde o espaço em viração infinda
Se descortina pelas praias da memória
Compõe a paisagem com a maré linda.
Queres ver o horizonte envolto em altos sóis!
Ilude o pranto, a dor, a mágoa rancorosa.
Bem tens tesouros de lembranças por faróis.
Veleja e crê na ampla maré do amor!
Em vão chamo a ausência desses cardos?
Essas cicatrizes tem o teor de feridas. Esquece
E a dor volta; esquece, reassumo o pranto;
A morte das horas renasce-esquecer, quem, esquece?
O sono cai sobre o passado como um oásis.