Cenas em preto e branco

Preto e branco —

A película gira na tela.

Duas almas caladas,

Num restaurante sem janelas.

Você cruza seu olhar no meu,

E eu confio na sombra que há em você.

Seus olhos pousam nos meus,

E eu, sem medo, deixo você me perceber.

Seu amor era um copo d’água

Que você deixou cair devagar.

Mas com ele veio a mágoa

De quem aprendeu a chorar.

Você pede meu número,

E eu digito com dedos trêmulos.

Mas você me deixa no inverno,

Como se afeto fosse fardo ou veneno.

Anos depois, eu te reencontro

No mesmo restaurante sem cor.

Ao seu lado, outro alguém —

E eu, a que nunca teve sabor.

Pra você, nada em mim bastava.

Seu silêncio foi meu fim.

Eu era só uma história rasa

Num roteiro que escrevi por mim.

Nossas linhas nunca se cruzaram.

Você dobrou outra esquina.

E eu fiquei a inventar destinos

Na margem da sua retina.

A fita se esgota.

E eu, no fim, quero rasgá-la.

Apagar as falas, os gestos,

E o toque que nunca se cala.

Preto e branco.

Se cada cena tem que cessar

Na exata hora do corte,

Meu coração jamais será seu lar.

Felipe Mattos e Rouxinol de Julho Virgem
Enviado por Felipe Mattos em 27/04/2025
Código do texto: T8319481
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