Cenas em preto e branco
Preto e branco —
A película gira na tela.
Duas almas caladas,
Num restaurante sem janelas.
Você cruza seu olhar no meu,
E eu confio na sombra que há em você.
Seus olhos pousam nos meus,
E eu, sem medo, deixo você me perceber.
Seu amor era um copo d’água
Que você deixou cair devagar.
Mas com ele veio a mágoa
De quem aprendeu a chorar.
Você pede meu número,
E eu digito com dedos trêmulos.
Mas você me deixa no inverno,
Como se afeto fosse fardo ou veneno.
Anos depois, eu te reencontro
No mesmo restaurante sem cor.
Ao seu lado, outro alguém —
E eu, a que nunca teve sabor.
Pra você, nada em mim bastava.
Seu silêncio foi meu fim.
Eu era só uma história rasa
Num roteiro que escrevi por mim.
Nossas linhas nunca se cruzaram.
Você dobrou outra esquina.
E eu fiquei a inventar destinos
Na margem da sua retina.
A fita se esgota.
E eu, no fim, quero rasgá-la.
Apagar as falas, os gestos,
E o toque que nunca se cala.
Preto e branco.
Se cada cena tem que cessar
Na exata hora do corte,
Meu coração jamais será seu lar.