Arquivo: Diário de um Mutante
Despertei à prova de dor
a pele calcificando devagar
fazendo-se couraça no peito
me protegendo das flechas
que maldosas, se perdem no ar.
Adquiri novas habilidades:
- o silêncio defensivo;
- o afastamento preventivo;
- o dom de não mais demonstrar.
A voz se tornou rarefeita
desprovida de afeto e fraqueza.
As batidas no peito alheio
seu som aprendi a calar
Aprendi a decifrar olhares
e a eles não me entregar
Romântico de nascença
mutante por evolução, ou defesa
O falante calou, o sensível cansou
e o amante virou resistência
E em meio às batalhas
o coração se fez diamante
endurecido, embora ainda pulsante
O que antes era afeto, hoje é vazio, é muro
No espelho, me encaro: herói, vítima ou vilão?
Talvez, um pouco de cada, em forma de contradição.