GRITO SILENCIADO
Ela gritou, mas ninguém ouviu,
A voz sufocada no aço do tempo,
Os olhos marcados pelo medo,
O corpo ferido, sangrando em lamento.
Quantas se vão sem nome, sem rosto,
Perdidas na frieza das estatísticas?
Sonhos ceifados, futuros negados,
Sentenças escritas em páginas cínicas.
A mão que acaricia também golpeia,
O beijo que prometeu amor agora queima,
E os passos que outrora dançavam livres
Tombam na sombra de quem a odeia.
Em casa, na rua, no silêncio imposto,
O cárcere é a rotina que não termina,
A justiça se veste de venda e desculpas,
Enquanto a morte se faz rotina.
Basta de corpos mutilados,
De vidas roubadas à luz do dia,
De sorrisos apagados na covardia,
De mães, filhas, irmãs sem saída.
Que a voz calada se torne tempestade,
Que os gritos rompam os muros da indiferença,
Que a impunidade caia e se despedace,
Que o medo não seja herança ou sentença.
Porque não é o amor que mata,
Não é a paixão que fere e condena,
É o ódio travestido de posse,
É o homem que a vê como pequena.
Que não reste mais uma sepultura,
Que não falte justiça, nem proteção,
Que cada mulher viva e seja livre,
Que sua história jamais termine em escuridão!