VINTE ANOS DE APARÊNCIA
Vinte anos se passaram,
tantos sonhos se esvaíram.
O amor, outrora vivo,
agora em cinzas dorme, esquivo.
Dois corpos sob o mesmo teto,
dividem o silêncio, o mesmo leito.
Olhares que não se cruzam mais,
são só reflexos de antigos ais.
A casa ainda cheira a café,
mas o sabor já não é o mesmo, não é?
As fotos na parede sorriem,
mas o tempo as desbotou, ninguém viu.
Fingem para os outros, para si,
um casamento que já não existe ali.
As palavras murcham, secas no ar,
não há mais o que dizer, nem onde buscar.
A rotina os mantém presos,
como velhos laços já desfeitos.
Eles seguem, sem saber por quê,
talvez por medo de ficar só, talvez por fé.
Mas o que é pior:
partir ou ficar?
Romper o nó
ou apenas esperar?
Vivem de aparências,
de um falso brilho,
enquanto o coração chora,
quieto, no exílio.
Vinte anos de histórias, de risos e dor,
agora são só sombras de um amor.
E assim seguem, sem se libertar,
dois estranhos que um dia souberam amar.