Nós

Ela era demais

Sempre foi demais pra mim

Acho até que não via dessa maneira quando vim pra cá e caí na suas graças

Quando os olhares se cruzaram

As palavras soltaram-se das bocas

As roupas, clamavam de calor

O corpo só queria um abraço eterno

Mas nada nunca era eterno

Então passei a me matar

Na verdade, ela é quem me matava

Todos os dias eu morria

E nascia de novo

Imaturo, irresponsável e louco

Louco pelo o amor dela

E todos os dias ela me amava e me matava e eu nascia de novo

E me devorava com os olhos

Tirava sorrisos meus e eu os dela

Ritmado coração, vitimada alma

Aí quando tudo era bom demais, se estragava

E arruinávamos tudo de novo

"Pra mim chega!" Reclamava

Do ócio, dos jogos, da rotina

Das roupas jogadas, louças e a vida inclinada a ser eternamente mais daquilo

Passada uma semana

Voltava-se aquilo

Suicídio após suicídio

E eu me sentia cada vez menor

Mas sempre em intervalos de grandeza

Por ter tal beleza, só pros olhos meus

E então não parecia estar piorando

Tudo nessa vida é cíclico, afinal

Mas aí chegou ao ponto da dor estridente

Das noite mal durmidas, pensando naquilo

Aquilo que não me saía da cabeça

Nos arruinamos mais uma vez

E desta vez eu estava decidido

Quando me chamou, não respondi

Quando me ligou, não atendi

Quando jogou pedras na janela, não ouvi

Quando bateu a minha porta, eu nunca estava em casa

Aí me fez um nó na garganta

Um nó entre os muitos nós que marcavam meu coração surrado

Eu estava cansado, irritado

Arrependido...

Um nó daquela dor de gritar e arranhar pra se arrepender e voltar com o rabo entre as pernas de novo

Uma pedra na janela

Nenhuma resposta

Estava selada, essa porta

E era melhor que eu fosse embora

Antes que ela também se arrependesse

E então fiz outro nó na garganta

Dessa vez com corda

Uma carta à cabeceira da cama e um último telefonema

Um recado na caixa postal

"Estou me mudando de São Paulo, permanentemente."

Voltei pra casa

Nunca mais a vi

E ela também nunca mais ouviu falar de mim

E a marca do nó está aqui até hoje

Cada dia mais pequena

Até que voltemos a ser

Completos estranhos