Discurso
Sabe como eu vou passar por isto?
Vou fazer de conta que você morreu
e que o fantasma que eu tenho visto
é o espectro do seu antigo eu.
No momento, estou velando seu corpo
e já passou das vinte e quatro horas.
De vez em quando, eu choro, molho o rosto,
mas faz parte do luto em mim agora.
Rezo para que você faça a passagem
e, finalmente, siga o seu caminho;
porque o que vejo é uma miragem
e, novamente, estou sozinho.
Não, não tenho mágoa ou rancor,
não adornei o seu ataúde.
O que tenho em mim é um torpor,
uma exaustão por ter feito tudo que pude.
O que vai seja notório
já que a vida segue o curso
e vou enlutado no seu velório
proferindo este discurso.