Mercado de Pessoas

Bawman descreveu os "amores líquidos",

Berman sobre o que é sólido se desmanchar no ar,

Senett sobre o domínio do individualismo,

De certa forma os seres humanos,

controem suas percepções de mundo assim no século XXI,

Moram juntos porque sem um papel é mais fácil ir embora,

Escolhem o divórcio como apanágio de problemas não dialogados,

O desapego é a tônica de quem vê o casamento como um instrumento social,

Um escape sexual convencional,

Uma porta para a validação externa,

Seguindo prerrogativas que família, religião e amigos definem,

Um anel no dedo reflete respeitabilidade? Estabilidade? Segurança? Amor?

Cada vez mais longe disso, um casamento é só uma oportunidade de mais fotos em redes sociais,

A aparência é o que importa!

No mesmo passo, para além dos inúmeros divórcios e abandonos com ou sem casamentos formais,

Com ou sem papéis, consensuais ou litigiosos,

Vemos uma geração fútil em APP de relacionamento,

Que passa a tela na vitrine de corpos e exigências dando "match" ou "X" como se estivesse em um supermercado,

Produtos com caras, bocas e pouca cognição a ofertar,

Inúmeros filtros que disfarçam a realidade de acnes, olheiras e rugas,

Muitos escolhem "IPhones" embora sua condição pessoal mal lhes permita pagar por um Xiomi,

Se superestimam uma vez que internamente carecem de autoestima,

Passam rapidamente a tela, na superficialidade,

Escolhem amores e roupas de igual modo,

Afinal, em tempos de descarte, tudo pode ser trocado mesmo,

Assim, seguem procurando um amor em um mercado de vazios,

Andam pelas ruas e instituições de convívio nessa busca constante,

Alguém para ocupar um "espaço" em um ambiente de poucos sentidos e rasos sentimentos,

Entrando e saindo de relacionamentos abusivos em comportamentos repetitivos,

O casamento vai se tornando cada vez mais um artifício de dramatização,

Uma comédia de erros encenada e encerrada como uma tragédia indiferente,

Se troca de parceiro, de aliança e nem precisa mais de um papel,

Não se precisa de cartórios ou templos para legitimar tantas uniões sem valor,

Menor burocracia, advogados, vara de família, bens a repartir,

Se troca de vida, de perfil, de ilusões,

No final o casamento é apenas uma experiência de laboratório fadada ao fracasso e a finitude para muitos,

Afinal, no "mercado de pessoas" sempre haverá novos rostos, novos corpos, novas possibilidades de negociar expectativas e solidões,

O pagamento pode ser feito em teias de dependência emocional e/ou financeira,

Por isso não existem "eternos" já que a consciência do desuso e reciclagem impera em corações efêmeros...