Raízes
As dores que eu senti me falaram mais de mim do que de você.
Estou perseguindo resquícios de felicidade que me deixam acreditar no amor que vivi, mas esse amor já estava frio no seu primeiro momento, só eu que não quis ver.
Você me conduziu gentilmente para a fossa, literal, não há floreios. Você foi um homem podre em um lugar sujo, e eu fui luz.
Quis cuidar de você, quis te elevar, mas você só soube sugar, sugou toda a minha vontade e me roubou o coração.
Me identifiquei com sua dor e me afundei.
Hoje sou espelho que reflete seu caminho, porém faço minhas escolhas. Atravesso essa sua história de faz de conta e conto a minha própria versão, a versão mais cruel e amarga, a versão que você não quis ler.
Eu bebo da verdade todo dia. Eu fui abandonada por querer abandonar a dor que tu me trazia.
Aos poucos, minhas raízes, que já são vívidas, são enterradas em um passado podre, mas elas reluzem na lama, elas purificaram tudo.
Eu sou o que restou. Minhas raízes sugam todos os dias as memórias das suas ações e me alimentam de verdades difíceis de engolir, para me fortalecer, para me fazer prevalecer, para me fazer crescer e florescer, dar frutos e morrer.
E o ciclo se volta mais uma vez, pois elas não se cansam de tentar me manter viva.
E eu vou viver, cada dia em casa, cada casa diferente, cada ano em um sonho maior, cada segundo lembrando do meu valor e, a cada fração de segundo, me indagando se eu estou vivendo ou morrendo.