Dorian Grey

Eu sou a música que toca nos 80/90,

O rock pop inglês que me comove,

As músicas portuguesas contemporâneas,

As letras e harmonias que me encantam,

A poesia que pernoita os dias findos,

Em ondas que ritimam a paisagem,

Sonetos sem rimas com livre expressão,

As novelas turcas e portuguesas,

Onde o romance se concretiza,

E há superação e aceitação,

O perfume Black Ferrari no olfato,

Da doce baunilha suave no ar,

O cheiro do café coado nas manhãs,

Os doces e bobagens do final de semana,

As risadas com os amigos diários

Os traumas provindos da infância,

As dores nunca curadas na jornada,

Tentando vencer as lágrimas na terapia,

As filosofias melancólicas de Nietzsche,

A dramaturgia poética de Goethe,

As leituras de solidão de Lya Luft,

Os alter-egos de Fernando Pessoa,

As viagens d'além mar no cruzeiro do sul,

Países do Velho Continente em castelos,

De torres e fortes ao Moulin Rouge,

Lançando moedas na Fontana di Trevi,

Andarilho pelos caminhos de Assis,

Sentando para desenhar o Coliseu,

Emocionado na magia de Macchu Picchu,

Nas colinas de Ouro Preto vi o universo,

As constelações buscadas no telescópio,

Sonhando ir ao espaço em meditação,

Sendo um astronauta com pés no chão, Budista em busca do caminho do meio,

O sentimento intenso quando verdadeiro,

Um oceano profundo de devoção,

O carinho transmitido no olhar,

A preocupação em cuidar e agradar,

A dedicação sincera em cada ato,

Respondido com distanciamento,

Recebendo apenas condenação bíblica,

Rejeição que se torna mágoa profunda,

Desilusão com palavras sem realidade,

Expectativas com sentidos desconexos,

Eu sou esse caos produtivo e vencedor,

De uma trilha cheia de obstáculos,

De um aprendizado de resiliência,

De muita entrega aos que acolhi,

Também a derrota do ser amaldiçoado,

A insuficiência da aparência no espelho,

Visto como um retrato de Dorian Grey,

Fantasma da Opera trocado por Raul,

O belo sempre vencendo o sentimento,

A superficialidade reinando nos atos,

Questionando: porque ser quem sou,

Quando de nada vale a pena me mostrar?

Sou agora apenas o que fizeram de mim,

A finitude da crença utópica no amor,

Pois nada do que fui ou sou é o bastante,

Me revelar foi uma grande desgraça,

O açoite cortante contínuo na alma,

A desesperança da reciprocidade real,

Endurecendo o sentir como proteção,

Me tornado indiferença e ceticismo,

Devolvendo ao mundo o que recebi,

À espera do porvir no calendário de mesa...