Sem título
Me chame pelo meu nome
Como um completo estranho
Não bagunce o meu cabelo
Não tire o meu batom
Você nem gosta de vermelho
Não fite os meus olhos como quem os lê
Sabidamente, as poesias não te cativam
E meus olhos são doces antologias
Devolva-me os domingos de sol
Os dias frios, os nublados
Deixa-me me ser de todas as estações
A que eu queira
Não cabem em ti as minhas oscilações
Tira-me, do teu bolso, inteira
Devolva-me, enfim
Porque me roubaste
Num dia qualquer de janeiro
E anseio tanto por mim
Como o teu anseio de ontem
Quando me querias, sem freio
No teu abraço, debaixo do chuveiro
Entrega-me o viço usurpado
Os beijos que me foram tomados
E todas as noites em claro
Leva contigo a liquidez do teu querer
Teu toque, minhas memórias
Quero ser vazia de ti
Livre das tuas rasuras
Deixa-me ser só
Tão só um livro em branco.