Há experiências nunca vivi
Há experiências nunca vivi
Jamais viverei
Passei no mundo em
Vida única
Nem status
Nem riqueza
Nem direitos mínimos
Só gritar
Sou humano
Sou gente
Sou preto
Sou indígena paiaiá
Sou da caravana
Carnavalesca do arco-íris
Das resistências
Das vergonhas
Dos insultos
E daquelas e daqueles
A quem tiram todas as oportunidades
Nessa Pindorama de meu Deus
Sou de voz rouca e
Pigarro na garganta
Sou igual a quem tem poder
Porém, sou desigual a quem o tem
Não tenho privilégios
Se não tenho nem mesmo direitos
Vou vivendo mesmo assim
Teimando, teimando
E como diz Nina Simone
Tenho mãos, pés, cabeça
Corpo
Vida
Sentimentos
Dores por rejeições
Ressentimentos
Por ter sido preterido
Tenho pontes de safena
Pernas cambaleantes
Requisito reparações
Pelos meus irmãos mortos
Em Guadalupe no Rio
Em um supermercado em
Porto Alegre e
No metrô de
Salvador
Por todos os trabalhos nossos e de
Nossos ancestrais
Enriqueceram muitos
Pelos maus tratos
Pelos pelourinhos
Pelos olhares tortos
Mostrando o desconforto e
A desconfiança pela cor
Pelas palavras duras, os insultos
As dissimulações e
As crueldades todas.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 25 de janeiro de 2024.