REMINISCÊNCIAS

Não falo dos objetos inertes à minha volta, nem das mágoas profundas que

mancharam meus vinte anos.

Eu nem teria motivo para bolar estratégias dos vinte anos vindouros e, talvez

eles nem existam.

Mas existe em mim esta vida disfarçada em ironia.

E sorri em mim essa tristeza de saber que algo falta e essas horas não

explicam, tampouco justificam os objetos sem definir as cores que, às vezes,

tingem o lado preto da vida.

Essas mesmas horas existem e contemplam meus erros, simplificando o meu

estado em euforia e quero sempre mais...

Também não falo dos becos imaginários nos quais me escondo, fugindo às

reminiscências do teu rosto.

Mas gostaria de falar que não quero de lembranças viver o presente para

imaginar que sou feliz.

E mil palavras eu quis pra ti...

Mas agora, circulas por meu tempo e invades a paz que sobrou do seu pós-

guerra em mim.

E tento ser indiferente...

Mas não consigo deixar de ignorar o teu atraso e vejo-me em atrito com meus

pensamentos e me pergunto sem saber me responder.

E os objetos inertes à minha volta, tampouco minhas mágoas, não justificam

meus vinte anos; as longas noites de espera sem que você chegasse.

Mas aprendi com essa espera a fazer-te esperar e procuro o que sobrou de

mim em tua sombra. Mas não é a mesma.

Suas digitais desvaneceram-se em meu corpo e se dissolveram com tudo o

que se foi de mim no tempo.

E minhas manhãs não mais retratam as suas.

Aquele mesmo sol que julguei ser seu ofuscou-se.

E minha solidão já não mais se alimenta de sua miragem noturna que agora

nada mais é senão vertigem.

Já não há impasse entre nossos pensamentos, mas são adversos.

Mas aponta em mim esse medo que aprendi contigo. Essa dúvida de sua

pantomima improvisada que não mais convence.

Esse medo de que outras solidões tomem minhas noites, enquanto brincas de

aprender o que sinto.

Que agora nada mais é senão lembranças que te amei um dia.