Beija flor
Ó meu querido beija-flor
Tão meu quanto os sóis que se iluminam
Nas noites cálidas do ardor
Tão meu quanto a chuva lívida
Que me escorres sem pudor
Meu beija-flor não tem gaiola
És livre e decola, sem destinos, sem demora
Quem dera fosses bem meu
Que se pudesse aninhar
Entre as petálas do meu gostar
Ó querido passarinho, ávido encanto
Com essas asas tão formosas
Pousa flor em flor a cada canto
Bebendo de outros afetos
Cultivando outras prosas
Ó meu querido beija-flor
Te tenho só por um instante
Me contento com sua dose de querer
Mistura de outras cores, aromas, sabores
De onde passas a volver
Meu fugido beija-flor não tem dono
Já eu retomo, enraizada e desfeita
Como quarquer outra flor
Por quem pisas sem intenção de causar dor
Pouco estimo, rente amor
Ó avezinha, não se engane
Longe eu querer podar sua alforria
De amores-prisão, covardia
Tola eu, em querer-te desse jeito
Sabendo que esse anseio é o que me judia.