Morri e morro como todas as minhas irmãs e irmãos negros
Morri e morro como todas as minhas irmãs e irmãos negros nos navios negreiros
Me afoguei no mar de Iemanjá, o Atlântico das águas das Áfricas e das Américas.
Morri e morro como minhas irmãs e irmãos negros nas favelas cariocas e paulistas
E nas favelas da Bahia, de Minas, Pernambuco, Maranhão e dos Brasis todos.
Morri e morro com minhas irmãs e irmãos negros nas prisões das cidades país afora.
Morro pela superlotação das celas, a péssima comida, as doenças e violências.
Morro de fome pelas ruas das cidades, comendo comida do lixo, andando descalço,
Dormindo ao relento em meio às sujeiras, pegando bactérias, fungos, fúrias e mais.
Morri e morro de baixa autoestima, pelas faltas de oportunidades, a dor de não ser,
A dor de não ter e por causa de perdidos esforços que moem o corpo e as almas.
Não ressuscitarei, vou morrer com todas minhas irmãs e meus irmãos negros.
Se um dia a nossa luta pela vida tiver valido a pena e a nossa derrota fizer sentido
A partir desse dia as nossas irmãs negras e irmãos negros não mais serão dilacerados.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 29 de novembro de 2022