Moribundo
Moribundo
Seria tal tropeço previsível?
Pois soa tão deplorável.
Insensato e miserável.
Naturalmente desprezível.
Outrora o médico e o monstro.
Do homem, seu submundo.
Agora o médico e o moribundo.
Medicar tem desses encontros.
Como um gato a ronronar
E roçar seus sedosos pelos
Direcionando seus apelos
Ao humano que o alimentar
Por males assim criou-se a ética
Para evitar vergonhas tais
Dar ao profissional alguma paz
Pois a vida não é hermética
Há esperança, não se foi o respeito
Ideias são ideias, sonhos são sonhos
Na mente se enterra qualquer assanho
Que adormece e desperta no mesmo leito
Talvez também, pelo mesmo motivo
Criou-se e perpetuou-se o segredo
Ético e conveniente a todo medo
Para a preservação, sempre um incentivo
E para arte foge mais uma vez
Toda a minha interna loucura
Chorume fétido envolto em ternura
Esforço em conter a lucidez
Sobre ansiar mais um mero segundo
Repetir um indireto e breve olhar
Seria eu o eu lírico a tropeçar
Plenamente, um moribundo.