Pessimismo vencido
Tentei me proteger no pessimismo,
pois me concentrar no pior dos resultados,
cessa o ardor de esperanças infundadas,
mas no final desejava um outro desfecho,
imaginava que com alguém tão singular
as peças finalmente fossem se encaixar,
sem perderem seus formatos originais,
sem exigências deformantes no encontro,
errei profundamente e deixei uma fresta,
um feixe de luz iluminou por um breve momento
a escuridão que sempre me abrigou,
cegou meus olhos desacreditados,
me fez crer em um mundo diferente,
me fez esperar uma experiência diversa,
me fez sonhar com uma outra primavera,
com o fim do longo inverno interior,
com o desgelo do lago de sentimentos,
com flores coloridas em meios-fios cinzas,
ledo equívoco, me permiti ser cortado,
transpassado mil vezes por foices de prata,
sangrar sem morrer, chorar sem secar,
viver sem existência, gritar sem voz,
não haverá mais estações ou temperaturas,
a próxima parada desse trem já chegou,
beco sem saída em trilhos abandonados,
e cada vírgula escrita ainda me fere,
cada sorriso de compaixão me humilha,
cada fala de busca por outro alguém me ceifa,
ingenuidade, distração ou sinceridade dolorosa?
Seja o que for, me destrói mais a cada minuto,
como se meus escombros não fossem suficientes,
reacende os pavios de pólvora para novas explosões.
O que sobrará de mim depois dessa devastadora presença,
que na ausência ainda me consome em chamas terríveis?
Ao pó voltarei mais cedo e não por referência bíblica,
enquanto seguirás o curso de quem pouco se importa de verdade...