Tão Profundo
Nesse tempo de amarguras,
onde corpos se oferecem em apps,
olhares compram propagandas,
sentimentos rifados no paiol da futilidade,
vazio e agonia de poesias amassadas,
rimas contestadas no gélido continuar,
não há acertos, só enganos,
nem o fundo do oceano traria respostas,
pensamentos superficiais não mergulham,
pegue seu produto estragado na prateleira,
pague um alto preço por ele no cotidiano,
depois não retorne com reclamações,
os defeitos sempre estarão aparentes,
quisestes assim mesmo para se moldar,
aparastes as arestas para se encaixar,
não adianta ter fé em vielas sem saídas,
buscar portas em muros de concreto,
janelas em minas de carvão,
ansiar por uma segunda vida,
quando na primeira rejeitas possibilidades,
quis acreditar-te mais profunda,
como os longos voos de uma águia,
mas suas asas estão cortadas para o infinito,
quis acreditar-te mais sensível,
como os pólens soprados pela brisa matinal,
mas não há terras férteis que brotem escolhas vãs,
no rodopio do mundo seu lugar será sempre o mesmo,
os pés enterrados no barro vermelho sem enraizar,
tão profundo o abismo para o qual gritas sem ecos,
porque eu, em uma segunda vida, na casca certa,
deveria lhe escolher, quando não fui sua escolha no presente?