LADEIRA DA MONTANHA

LADEIRA DA MONTANHA

mas era primavera

e não fui ao Jardim Zoológico

eu que para cem homens

só servi de purgatórios

nunca foi a minha busca subir a ladeira

e me prostrar à calçada

de uma daquelas casas

mas Madeleine me viu

e só com um olhar profundamente já soube

sabia ela das minhas lutas

sem que eu as trançasse

trançou meu cabelo

e me tingiu os beiços com uma cor ardente

e a cara com um pó arroxeado

parecido com o odor do perfume excessivo

com que também me serviu

naquela noite eu via a vela em borras

no banquinho ao lado

restos de oratório

e ele em cima de mim acavalado

como se o amanhã nunca fosse existir

como se foragido dali a pouco

fosse ele outra vez aprisionado

eu que queria ver o sol dourado

eu que não queria ser a ladeira

para os alívios imediatos

eu só ansiava descê-la

tomar o navio

ganhar o mar

e lançar depois das águas os retalhos

meus lençóis e asfixias