Mulher-Lagarto

Pode me quebrar, querido

Quantas vezes for

Recolho meu orgulho partido

E renasço da minha dor

As risadas que ferem meu ego,

Agradeço com minha regeneração

Pois à batalha não fujo, não me entrego

O alheio despeito louva minha ascensão

Minhas lágrimas correm,

Mas, por favor, não se engane

Elas não choram, mas corroem

Não notará até que sua pele inflame

Meu riso não se deleita,

Mas exala minha ira

Assim como seu olhar enfeita

A crueldade que você me atira

Com um cínico sorriso,

Retribuo cada ferida que me cria

Desculpe se não me atemorizo

Pois minha alma é fria

Troco de pele como quem troca de roupa

Jeito interessante de sobreviver,

Para espécies a quem a vida não poupa

E a ingenuidade condena a perecer

De longe sinto o fedor

Da podridão do seu caráter

E a essência do seu pavor

Emanando do seu cadáver

Mas saiba que eu tinha te visto,

Seu sorriso nunca me enganou

Calada, apenas contemplo e assisto

O circo que, perante mim, você armou

Não pense que os anos só me deram rugas

E não me deram nenhum aprendizado

Sobre essas impertinentes pulgas,

Que, do meu sangue, têm se alimentado

Muito fácil eu poderia esmagá-lo

Mais fácil ainda, eu poderia tragá-lo

Mas prefiro poupar minha vitalidade,

Não vim ao mundo satisfazer sua vaidade

Vá dormir, minha tola criança

Enquanto isso, permaneço bem acordada

Esperando tropeçares em sua autoconfiança

Aguardando, ansiosa, a menor resvalada

Seu olhar é persuasivo,

Seu sorriso é traiçoeiro

Melhor ficar apreensivo,

Pois meu bote é certeiro...