Eu não sei nada sobre ti.
O que eu sei de ti ? Absolutamente nada.
Não sei como é viver em sua vida,
à espreita do mundo,
à espera de tudo.
Como é ter um derrame de tristeza com cada sentença falada, no centro de tudo, no teu cotidiano tão solitário como um animal que se perdeu do bando.
Não sei quem te deixa mal, te tira o ar e quem o devolve a ti. Quem te fez entender o recíproco e quem é o teu próprio infinito.
Só sei que desde que te conheci, algo em mim saiu do lugar e nunca mais voltou. Algo em mim se partiu em mil pedacinhos que não voltaram nunca a se encontrar.
Algo em mim se perdeu e nunca mais voltará para se buscar.
Desde que te conheci, me pergunto se realmente me conhecia, ou se só me olhava no espelho, me encarava, sem a intenção de me desvendar. Por isso, quando eu fui tocado por você, algo em mim desmoronou.
O ar errou o caminho do pulmão, o sangue errou o fluxo, meus pensamentos se perderam em meio a escuridão.
O surrealismo que foi te encontrar transcendeu o tempo, dias, dimensões e constelações.
1 hora nos separa no mundo, mas as emoções nos separam muito mais. Mesmo depois do seu “adeus”, ainda espero te encontrar. Mesmo depois do seu “me desculpa”, eu ainda vou esperar você aparecer na minha porta e pedir aqueles cinco minutinhos que sempre falava. Isso significa dizer que no lapso do tempo, do universo, independente do lugar ou estado mental, ainda é possível te encontrar.
Mas ainda assim, quando estamos cara a cara, sentimentos diante de sentimentos, paixão encarando outra paixão, amor à tona de qualquer situação, eu te desconheço.
Não sei nada sobre ti a não ser que você sempre repudiou a ideia da existência humana. Que olhava para a lua com os olhos de um menino perdido de si, que sente saudade de tudo, principalmente da infância perdida, de poder deitar no colo da mãe e chorar.
O que estou fazendo comigo mesmo ?
Me questiono sempre que penso em você.
Paixões proibidas existem para nos tirar da nossa linha imaginária do viver cotidiano. É preciso um pouco de adrenalina para viver, sentir a vida te abraçando e te tirando de órbita, o mundo se desmanchando em um só segundo.
Não sei nada de ti, mas invento, interrompo, e assim escrevo.
Não sei mais qual cheiro dorme em teu pescoço; quem dormiu ao seu lado na cama, aonde eu deveria estar; quem te causou dor, e com isso, hoje carrega um pedaço de ti nas próprias mãos sangrentas do acaso; quem te carregou em mentiras e te tirou de si mesmo. Não sei mais quem tira a tua roupa que eu deveria tirar; quem te olha nos olhos e vê toda a constelação que um dia vi; que te observa pelo olhar e sabe a raridade que encontrou, e sabe que foi encontrado também, sabe o quão raro é.
Agora, em alguma parte desse mundo sombrio, grande e cheio de retalhos, gosto de pensar que você também pensa em mim; que se deita na cama olhando para o teto, e se propõe a filosofar, teorizar, e tudo que terminar em “ar”, de como teria acontecido se tivéssemos nos dado outra chance; se no calor da loucura você não tivesse dito “adeus” e sim um “até logo”; que pensas sobre nós; sobre sermos os certos na hora errada, momento errado, ou quem sabe até vida errada; que sem querer, esbarramos na existência de um viver que não está preparado para nos acolher; de termos um exagerado sentimento que escondemos e os colocamos à deriva do mundo, de nós.
Que tu também imagina que poderíamos ao menos ter tentado sair dos pensamentos, escalando as barreiras da sociedade, e até as imaginárias que nos impomos a nós mesmos, escalando os traumas do passado rumo a um “nós” que nos daria um pouquinho de felicidade e paz num mundo cinza e cheio de tormenta; que tivéssemos arriscado um pouco mais; que se não tivéssemos tantos medos de meros adolescentes que nem sabem viver sem pensamentos inseguros; se tivéssemos engolido o próprio silêncio da mesma forma que engolimos a comida, sendo que não nos alimentamos a meses; que se eu não tivesse tantas questões a serem respondidas, talvez. Talvez tivéssemos dado certo.
E são esses talvezes que mais me assombra no mundo, no meu futuro incerto.
Sapateio sobre eles como quem não sabe o que faz. E o que eu faço ? choro ? rio ? agradeço ? me desmereço ? A dúvida é o que corrói todos os meus “bom dia” que tendo dar a mim mesmo. Se penso em ti, logo me vem a nossa história, e a que se escreveria depois dos nossos corpos unidos por um anel. Imagino logo como seriam os dias e as noites de puro sexo e amor, do teu corpo colado ao meu e nossos ouvidos silenciosamente ouvindo cada batida sincronizada dos nosso corações. Como seriam as nossas brigas de casal; a saudade que a ausência nos traria quando iríamos trabalhar; dos encontros loucos e divertidos, e da profundidade que nosso beijo nos traria, intimidade debaixo da língua, no tecido, na saliva, na intimidade da sua boca na minha.
Se penso muito sobre ti, me pergunto se fez tanto sentido ao teu corpo como fez ao meu; se seus pelos também arrepiavam quando eu beijava seu pescoço, e se teu mundo desabava quando nos despedíamos, mesmo sabendo (ou achando) que nos veríamos de novo.
O que eu sei de ti ?
Sei que é um menino de 14 anos; que tem talento na guitarra e que seus poemas são a cura para minha alma. Que beleza é teu charme e que carência alheia não é seu forte.
Sei que pessoas como você foram feitas para voar, que eventualmente encontram pessoas como eu, que ainda com os pés atados ao chão, tentam se soltar.
- Ash Magon (7/3/2023)