O que sinto?
O que sinto, aperta-me o peito
Tal como cinto de calça apertada
De roupa antiga e rasgada,
Que, um dia, sim, foi folgada,
Roupa que me floresceu.
O que sinto
É roupa que está encardida
É pele que tem a ferida
Aberta e em carne viva
Do amor que apodreceu
O que sinto
É síndrome de burrice
É vida do Mundo de Alice
No país das Mil Maravilhas
Do oposto do Gato de Botas,
Do amor que só se fodeu.
O que sinto
É porca que foi retorcida
É trem que não tem partida
É barco que está à deriva
Sem nau, pois que se perdeu.
O que sinto?
É cinto de autoflagelo
Marcelo, Marmelo, Martelo
De tudo que tento dar nome
Da culpa do amor e do belo
Da roupa quem em mim foi folgada
Que hoje se acha apertada
Roupa do tempo surrada
É amor, a flor que morreu.