Escuro
Às vezes a vida me joga em um porão escuro.
E de nada adianta o sorriso que treinei frente ao espelho,
De nada adianta meus olhares atentos,
Ou a minha confiança de andar a passos seguros,
Eles não existem no escuro.
No escuro sobra só a minha voz,
Que tantas vezes é trêmula ou baixa demais,
Que não sabe se impor,
Que não se lembra como diz uma coisa normal.
No escuro eu não sou normal.
O escuro me leva para trás,
De encontro ao passado que eu não quero lembrar,
E todas as feridas que tentei ignorar,
Todos os lugares que deixei de visitar.
Porque era escuro demais.
O escuro é ensurdecedor,
Todos os gritos que eu não quero ouvir,
Todas as vozes que não me deixam dormir,
Todas as vezes em que morri.
Porque no escuro não existo mais.