Rua Sem Saída

Já não me importa suas tralhas

Seus passos, seu rumo, seu prumo

Já não me interessa suas falhas

Seus traços, seu jeito, seu cheiro

O que você deixou para trás, feito perfume

Agora está há anos-luz, invisível

À frente de qualquer vestígio seu

O que você deixou lá atrás, feito curtume

Já está trancafiado com o passado, bem guardado

Desprotegido e frágil, bastante trincado, marcado

No cofre, um único segredo, proteção aos meus bens

Em você, tantos segredos, e pensar que já foste "o" bem

Fui atraído e traído

Que diferença uma letra faz

Enganado por você, distraído

Mero engano, substituído, aquém

Tantos segredos mantidos, escondidos

Enigma público, chumbo trocado, outrem

Ao contrário dos seus, empurrado em abismo lúdico

Aos revés dos meus, hipnotizado por magnetismo púbico

Te levei à minha porta, trancada, disposta

E você a largou encostada, escancarada, exposta

Te mostrei minha casa, meu mundo

Cada cômodo acomodado, acolher profundo

Saiba que mudei, estou mudado

Demorou, sou lento, reconheço

Agora novo endereço, sem adereço, só apreço

Uma verdade difícil de acreditar

Uma placa sem sobrenome, somente um pronome: eu 

Em minha rua não mais passarás,

Pois nesta via, nova rua de mão única, saída não há.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 15/01/2023
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