Rua Sem Saída
Já não me importa suas tralhas
Seus passos, seu rumo, seu prumo
Já não me interessa suas falhas
Seus traços, seu jeito, seu cheiro
O que você deixou para trás, feito perfume
Agora está há anos-luz, invisível
À frente de qualquer vestígio seu
O que você deixou lá atrás, feito curtume
Já está trancafiado com o passado, bem guardado
Desprotegido e frágil, bastante trincado, marcado
No cofre, um único segredo, proteção aos meus bens
Em você, tantos segredos, e pensar que já foste "o" bem
Fui atraído e traído
Que diferença uma letra faz
Enganado por você, distraído
Mero engano, substituído, aquém
Tantos segredos mantidos, escondidos
Enigma público, chumbo trocado, outrem
Ao contrário dos seus, empurrado em abismo lúdico
Aos revés dos meus, hipnotizado por magnetismo púbico
Te levei à minha porta, trancada, disposta
E você a largou encostada, escancarada, exposta
Te mostrei minha casa, meu mundo
Cada cômodo acomodado, acolher profundo
Saiba que mudei, estou mudado
Demorou, sou lento, reconheço
Agora novo endereço, sem adereço, só apreço
Uma verdade difícil de acreditar
Uma placa sem sobrenome, somente um pronome: eu
Em minha rua não mais passarás,
Pois nesta via, nova rua de mão única, saída não há.