Adeus aos poucos
Ah, D-us!
Condene-me!
Vou partir!
Adeus!
Sigo catando o vento,
No vento que me faz voar!
Cato vento,
Vento cato,
Canto vento,
Vento canto.
Que desencanto no encanto do amor que canto!
Que sentimento horrível este!
Pimenta no cuscuz seco!
Água de coco amarga e azeda!
Suco de amores sem amoras.
Gengibre doce que me faz sorrir!
Meu monte dos vendavais.
Em minhas cinzas, em ventos,
Nada se move nas memórias de meus varais.
Nada me põe mais vulnerável e sem armas do que lembrar,
Dos meus amores, os anais.
De todos eles, ela é estática e única!
Anjo estático que me redime pelos olhos!
Minha medusa tesuda!
Nela, fico sem enxergar!
Névoa que nevoa meu jeito nevuento de me ver.
És névoa que me deixa cego!
Sol que queima minha pele que sangra, sangra, sã!
Grave ventaneira que me sacode e eleva a mente.
Cachimbo do capeta! O teu eu chupo!
Ah, amor!
Anjo!
Demônio!
Gênio?
Ilusão?
Verdade que dói e dói e dói e corrói.
Bote de madeira furada que navega sem rumo em águas turbulentas.
Não afunda!
Não afunda!
Não afunda!
Só há funda que acertou a minha testa e afundou!
Seria o amor o registro da noite?
Ou será que dele só há estação certa de frios?
Qual a estação que devo descer?
Com os frios, o vinho que enebria e aquece meu coração!
Vou descer nesta ação!
Inferno que se mostra em meu purgatório constante,
Aconchego que milita pela presença de quem é minha amante!
Dá pra ser presente ou é difícil?
Sem pedir, subo, de joelhos, em teus andares!
Andares que tens como malícia!
Ah, teus andares!
Antes a solitude da felicidade do que a ausência do amor que não tenho.
Vou fechar meus olhos!
Sou um quebra-cabeças que quebra a cabeça tentando achar pequenas partes de mim mesmo nas entranhas de meus cômodos vazios.
Ouço passos!
Lá vem ela!
— Quem vem lá?
— “Sou eu, a solidão!”, escutei!
— “Suba as escadas de minha vida, se puder!”, disse eu duvidoso.
Silêncio...
A solidão desistiu de mim só porque lembrei do meu amor!
Juiz de mim mesmo, a minha consciência se faz!
Pese a mão sobre meu peito e redima-me!
Esprema meu coração e beba meu suco amargo de solidão.
Caim e Abel moram em mim!
Não sabia?
Entre eles, escolho o caminho do meio.
O melhor de ser inteligente é saber se fazer de burro, cego e surdo!
Gosto de me fazer de besta, bobo ou inocente.
De não estar bem vestido e nem ter peso na mente!
De comer com as mãos enquanto todos comem com talheres, contentes.
Sendo assim sei quem me ama de verdade.
Céu!
Inferno!
Purgatório!
Redenção!
Condene-me, pois que, mesmo sofrendo, escolho amar!
Ah, D-us!
Adeus!
Adeus aos poucos...
Adeus aos muitos...
Ah, D-us!
Eu fico sem adeus!
E fico com o amor próprio que Tu me deu.